quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Bengala

Pobrezinha! Tão nova, mas tão velha.

Pensava que mostrar as partes do corpo era sinônimo de falta de sobriedade e que os olhos fora dos óculos conotavam falta de seriedade. Comportava-se como se só sua aparência dissesse algo sobre o que tinha a dizer.

Ledo engano, ainda bem.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Paralelos

Já me perguntei pra onde iam todas as coisas quer perdíamos, como canetas, borrachinhas de cabelo e guarda-chuvas, por exemplo. Certa vez li um texto engraçado o qual falava de um mundo paralelo em que todas essas coisas perdidas pairavam. Concordei, só pode ser.

Mas há outros tipos de coisas que perdemos, ou deixamos pra lá. E essas coisas, pra onde vão?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Emburrecimento

Sinto-me acometida pela "peste da insônia", que se alastrou lá em Macondo. E como se dizia dela, seu pior mal não é a falta de sono, mas o esquecimento para o qual evolui. É preciso falar, pra não cair em mais de cem anos de solidão.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O preço da felicidade (?)

"Compre requeijão, água sanitária, saco de lixo 100l - porque aqui somos muitos, e se junta muito lixo! -, iogurtes - para as eventuais e sempre frustradas dietas - e carne para o mês inteiro. Lembre-se, pegue o meu cartão."

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Cadei(r)as

Coloquei cadeiras feitas por meu avô no meu consultório. Não o conheci, ele morreu antes que eu nascesse. Nem posso imaginar como o chamaria. Lá na cidade onde morava, minha mãe e minha avó diziam que o chamavm Zito. Vô Zé, vô Zito, vôzito, vôzinho. Já escutei tantas nuances de sua história, e é isso que consigo carregar de sua imagem. Vendo as cadeiras, e as mesas, e as camas e toda a arte feita por suas mãos acho que me emociono. São tantos mínimos detalhes, que nunca imaginei que as mãos de um homem, como este que imagino, poderiam talhar tal arte. Há algo nessas cadeiras que ele precisava dizer.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A douta ignorância

É sempre esse papo de que eu sei, mas não sei que sei. Se eu soubesse não estaria aí, vagando por entre essas interrogações. Invento de pensar em pai, mãe, avó, identificações, separações, idéia, afeto, tento buscar onde tudo começou, afinal, isso deve ter algum valor. Daqui a pouco apelo pra vida intra-uterina e cartomante, já me indicaram uma boa, lá no Rio de Janeiro.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A branca

Penso em algum nome francês para nomeá-la, gosto dos nomes franceses, são chiques, não sei por quê acho isso, mas acho. Nem nunca estive na França, e não tenho planos de viajar pra lá no momento. No momento não tenho planos. Não interessa.

Thereze Marie!

Thereze Marie de vez em quando pintava, e quando começava um de seus quadros virava a madrugada ousando novas pinceladas, arrematando detalhes imperceptíveis que faziam sempre muita diferença. Ficava com dor nas costas, porque não conseguia parar de se dedicar à paixão que, às vezes, durava uma noite inteira e depois ficava esquecida semanas, voltando a ser amada loucamente. Presenteou-me com um de seus quadros, eram máscaras do carnaval de Veneza, de olhos vazados. Os olhos estavam espalhados por todo o quadro, dispostos como numa ciranda, girando em torno de uma flor, espreitavam as máscaras choronas, que não tinham olhos para ver, como se zombassem delas. Thereze pintou uma máscara branca, é a única alva dentre tantas escuras e choronas, que aponta o olhar para o alto, mas ela não pode ver, porque os olhos estão caídos.