quarta-feira, 29 de junho de 2011

Nota do autor

Este blog não se pretende constituir um livro de verdades (apenas as minhas, é claro, pois a verdade é de cada um).
Este blog não contém nenhum ensinamento ou histórias com morais quando acabam.
Este blog é apenas uma tentativa de afastar os demônios, que, nos meus sonhos, aparecem como dragões chineses feitos de papel de seda.

As tais luvas azuis

Queixava-se incessantemente, dizendo ao mundo que a vida era seu algoz. Queixava-se das luvas azuis nas quais ela não queria caber, do desinteresse da outra por seu suflê de amêndoas e seu tocar de flauta.
Queixava-se das poucas refeições feitas por dia, não pela falta de comida, mas pela falta do tempo que dizia não conseguir se dar.
Queixava-se dos anos, mais perdidos que investidos, em todas as coisas que não queria.
Tudo isso em nome de todos aqueles que não a davam em troca.
Troca.
Troca tudo.
Troca e vê que também te oferecem suflê e você é quem não quer.
Troca e ouve a sinfonia feita com todos os instrumentos do Universo que compuseram para você.
Troca e acorda pro quanto se repete, como um disco riscado, todos os dias de sua vida.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Talento Intense

"Francês ou Italiano?", perguntava-se. Tentando, obsessivamente, lógico, encontrar razões que justificassem a escolha de um ou outro.

"Francês é quase universal. Além disso poderei ver todos os filmes franceses sem legenda. No dia em que viajar pra Paris me confundirei no meio do povo e..."

"Italiano é a língua dos meus antepassados, tão charmosa e ..."


Estava só, folheava livros ao mesmo tempo que pensava se a gripe passaria, em que roupa usaria e em como disfarçaria os quilinhos a mais que não se esforçava muito para perder, já que seus joelhos pesavam.

Desceu igualmente só, pretendendo comer o mesmo lanche de sempre : pão francês integral recheado com queijo branco e peito de peru. Logo de início sabia que o dia não era igual aos outros. Pediu de entrada dois pães de queijo, e já que estava só, deixou-se levar por outros casais e outros amigos.

Ao telefone o rapaz reivindicava uma transferência, em francês. Não sei de quê, em francês.

Por causa da agonia, e de estar só, e de não saber nem francês nem italiano comprou uma enorme barra de chocolate com amêndoas, prometendo-se apenas um pedacinho. Mas só um pedacinho não preencheria, em só um pedacinho não cabia tudo isso.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

É uma pena

"Repetindo, repetindo, repetindo como num disco riscado (...)
Cutucando, relembrando, reabrindo a mesma velha ferida (...)"