terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sobre o patético de ser um fã

O anonimato faz de todos nós uns pobres coitados, fadados ao insucesso, jamais objetos do amor do sujeito ídolo, idealizado.

Pela inveja nos unimos, na impossibilidade de sermos amados tornamo-nos um.
Mas é só porque você não pode ter também que eu te quero perto, amigo.

Durante aquela música, eu sei que você cantou pra mim,
Sei que você quer me adicionar nas redes sociais,
Sei que me acha a mais bonita dentre todas as que te adoram,

Mas sei que me ignora pra me proteger da solidão,
Faz parte do seu show,
Faz parte do seu show, meu amor, meu amor...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

In memorian

Ainda sonolenta, fito, de dentro do carro, o rapaz e suas duas crianças sendo molhados pela água da poça que o motorista não viu.
Prefiro pensar que foi acidental.
Tenho vontade de chorar, mas não vou, demorei-me demais na confecção da minha maquiagem.
Consegui um traço perfeito com o delineador.
Todas as manhãs eu pinto a cara que é pra colorir um pouco a crueza da vida.
É difícil enfrentar o mundo de cara limpa.

Soube que o moço piadista, que queria viver, morreu dormindo, virado pro canto, e coberto.
Coberto de razões pra não ter partido - os corações.
Penso em chorar, e desta vez eu vou.
Diferente do que fiz quando vi as roupas das crianças enlamaçadas, a moça perder o filho, o senhor perder a memória, e por consequência a vida, já que tenho minhas dúvidas de que ela seja mais do que isso.

Memórias.

Também se morre delas, pois numa tentativa incessante de querer ser o que poderia ter sido, jamais se vive.
Ou, vive-se como se tivesse morrido.

O amigo do moço disse, a respeito dele, que enfrentar era uma espécie de "hobby".
Me ensina, moço, me ensina.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Valsa(lva)

Com um coração de quem ainda não nasceu, tropeço na - permitam-me o esdrúxulo jogo de palavras - Valsa(lva) da vida. Procurem no google.
Todas as noites sentindo que o que ele quer é sair pela boca, preciso transformá-lo em palavra.
Gostaria de ver gente feia, tomar uma cerveja na lata suja, sentir um pouco do cheiro do cigarro que nunca vou fumar.
Merci!
Aprender meia dúzia de palavras em francês, pra entender Lacan no youtube, e outra meia dúzia em alemão também, pra não depender da tradução do Joaquim nas leituras.
O Joaquim sabe a hitória de todas as tribos primitivas do mundo, toca instrumento de música Indiana, é mestre e mergulha.
Aonde se compra esse coração, Joaquim?

domingo, 30 de setembro de 2012

Aceite esta valsa

É a lua cheia. São as eleições, lembro-me do mesmo vento.
A moça dizia que era o jeito do raio de sol incidir na calçada, e ela aceitava, era preciso coragem.
Já nem sei como se chama aquela palavra, que dizem só haver no português, I miss that time so much.
Se todos soubessem o que há debaixo do rosto maquiado de cada moça dessa cidade. Mas elas são fortes, aceitam a valsa.
A valsa da vida.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Coração bobo, coração bola...


Oi Maria,

Há quanto tempo não te escrevo, não é mesmo? Estava muda!

Descobri tantas coisas nos últimos tempos que estou esburacada. E esburacada mesmo, literalmente. Tenho um buraco no coração, coisa que todo mundo tem antes de nascer, mas pra alguns não fecha nunca. Será que é porque ainda não nasci de verdade, Maria?
 
Fiquei pensando no monte de coisas que a gente nem sabe ao longo da vida, porque eu poderia nem ter descoberto, mas agora sabendo, é irreversível, tenho medo. Disseram que a única coisa que eu não posso mesmo fazer na vida é mergulhar, e nesse momento, agradeci a Deus por nunca ter sonhado com isso. Agradeci a Deus também por ter ganhado uma bicicleta no aniversário e já ter reaprendido a andar, com destreza, e modéstia também.

Sinto informar, minha amiga: todo mundo vai morrer um dia, mas é preciso esquecer disso um pouco pra poder viver. Afinal, a gente morre de queda, de caganeira, jogando futebol, de picada de bicho, nunca se sabe.
 Só imagino que, amando e vivendo a vida, de buraco a gente não morre. Né?

Um beijo,

Judith.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Como água

Devolva-me as palavras, pois antes mesmo de chegar ao "perdoai as minhas dívidas" já adormeci, sono profundo.
Perguntei ao mais moderno aparelho eletrônico qual era o sentido da vida e ele me respondeu : All evidences to date suggests it`s chocolat. Então eu comi, me empanturrei, sem colocar ali uma palavra sequer.
Minha corpulência é meu único baluarte.
 Meus passos pesados, uma cavalaria anunciando minha chegada, e assim, mesmo tímida, nunca passo desapercebida

 What`s the meaning of life? Não nos deixeis cair em tentação...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Consolo

“Vamos, não chores A infância está perdida A mocidade está perdida Mas a vida não se perdeu O primeiro amor passou O segundo amor passou O terceiro amor passou Mas o coração continua Perdeste o melhor amigo Não tentaste qualquer viagem Não possuis carro, navio, terra Mas tens um cão (...)” Ah, Drummond, acho que são só as suas palavras que posso oferecer, porque eu mesma já não posso lá estar - "toda ouvidos".

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Vamos sair pra ver o sol

E na escola te ensinam que que “o homem nasce, cresce, reproduz e morre”. No meio disso o homem apanha, chora, pede peito, rasga o livro, põe o dedo na tomada, baba, não precisa mais de fraldas, fala! Come bolinho de chuva, canta de olhinhos fechados embolando as palavras, brinca de ser super-herói, faz teatro, morde o priminho, faz prova, balé, natação, vôlei, jiu-jitsu, dança, beija pela primeira vez, pela segunda vez, pela terceira vez, chora por amor, porque brigou, foge de casa com uma maçã e um gibi do Chico Bento, imita sua mãe, pede proteção do pai, bebe, se arrepende, estuda, encena, seduz, trabalha, beija pela décima vez, mente e odeia. E se deixa de realizar o seu desejo, diz que é para o bem, e bem de quem?

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A roda é redonda

Canela, sardinha, repolho, gengibre, beterraba, quinua, acelga, a poderosa linhaça, radicais livres. Perca peso sem esforço, turbine o poder, afaste as doenças, ilumine sua pele, proteja seu corpo, corpo fechado, mente fechada, sorria, cante, o corpo dos sonhos! Seria o conteúdo dos seus anseios ou o torneado dos seus glúteos o prato de hoje? Não fume! Aliás, fume para não engordar, não coma carne, não beba álcool e nem tome café. Masque chicletes de nicotina. Com quantas obrigações se destrói o prazer de aproveitar a vida? Sorria! Testosterona, progesterona, tiroxina, cleptomania, ocitocina, orgasmos múltiplos. Goze! Ocitocina no nariz. Filtre todo sol, toda luz, todo calor, tudo o que é visível. Esconda-se sob um pigmento denso, você permanecerá eternamente lindo, até o caixão. Osteoporose à parte, suplemente tudo! A vida é um palco iluminado, dance, sapateie, êxtasie-se! Fluoxetina, Sertralina, Citalopram, Efexor, Delírios, um drink, por favor! Adoce sua vida com um botox, preencha todo seu vazio com ácido hialurônico, ou metacrilato, se quiser viver perigosamente. Saque um hormônio bioidêntico, uma taça de resveratrol, uma porção de coenzima Q10, 3 cápsulas de ômega 3 grelhadas, salpicadas com sementes de romã, e uma tal de chia, que dizem ser melhor que a poderosa linhaça. Feijão branco faz correr sem sair de casa. Gargalhe! Hidro-cólon-terapias com sal grosso e limão, podem te levar ao céu, com abdômen tanquinho. Como nossos antepassados sobreviveram sem todo esse conhecimento?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

As maiores dores

Era noite, e um trote os levou à delegacia para registrar um boletim. Não era qualquer noite, era sexta-feira à noite, e qualquer coisa seria melhor que uma fila de desolados.

De camisa social branca e calça, daqueles tecidos calorentos, preta, imaginei que fosse de alguma igreja evangélica, Seu Jurandir dizia, inconsolável, que nunca havia pisado numa delegacia antes, e que nenhum homem da família havia dado problemas como seu filho. Tentava se convencer de que a culpa não era sua e justificava sua decisão de não entrar para vê-lo.

-Era um menino trabalhador, frequentava a igreja. Depois deu pra colocar um monte brinco, fazer tatuagem nos braços e pintar cabelo de branco! Eu nunca passei por isso na minha vida!

A esposa silenciosa, de blusa de manga, barriga saliente, saia longa e chinelos de dedo, entrou delegacia adentro apenas com um papel em mãos. Pouco tempo depois saiu com um choro estancado na garganta, cobrindo seu rosto com a mesma folha, mas ao sair pela porta rompeu o silêncio com um brado, e chorava o que parecia ser a maior dor do mundo.

As maiores dores do mundo cabem em espaços muito pequenos.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Índices

Encontrei a natalidade nos índices de saúde da população.
É Natália, nessa idade eu já era casada, trabalhava pesado e tinha filho nas costas.
É Natália, nessa idade passarinhos já voaram, e os cães até já morreram .
Natália, na sua idade seu avô já era quase vô, sua avó quase vó, e eu quase fui feliz.
Na sua idade, Natal era época de esperança e eu fazia lista pro ano que viria, pensava ardentemente em casar com o moço do carnaval e contava as moedas pra casa que eu construiria.
E você, Natália?
Na tal idade que tem, age como se fosse morta.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Holy Dream

Há sempre tantas tatuagens. Monstros , amores e outros demônios.
Essa era uma cópia da de alguém.
Jesus Cristo emergindo de uma densa e fofa nuvem, como aquelas de desenhos animados. Parecia Netuno, embora fosse do céu que surgia.
Cobriria minhas costas, de ombro a ombro. Havia um "+4" escrito no meio das nuvens.
Jesus Cristo, nuvens e +4, eu e eles.