sexta-feira, 20 de abril de 2012

As maiores dores

Era noite, e um trote os levou à delegacia para registrar um boletim. Não era qualquer noite, era sexta-feira à noite, e qualquer coisa seria melhor que uma fila de desolados.

De camisa social branca e calça, daqueles tecidos calorentos, preta, imaginei que fosse de alguma igreja evangélica, Seu Jurandir dizia, inconsolável, que nunca havia pisado numa delegacia antes, e que nenhum homem da família havia dado problemas como seu filho. Tentava se convencer de que a culpa não era sua e justificava sua decisão de não entrar para vê-lo.

-Era um menino trabalhador, frequentava a igreja. Depois deu pra colocar um monte brinco, fazer tatuagem nos braços e pintar cabelo de branco! Eu nunca passei por isso na minha vida!

A esposa silenciosa, de blusa de manga, barriga saliente, saia longa e chinelos de dedo, entrou delegacia adentro apenas com um papel em mãos. Pouco tempo depois saiu com um choro estancado na garganta, cobrindo seu rosto com a mesma folha, mas ao sair pela porta rompeu o silêncio com um brado, e chorava o que parecia ser a maior dor do mundo.

As maiores dores do mundo cabem em espaços muito pequenos.